quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Até o António Pina colunista do JN goza com os patos bravos que dirigem a Câmara de Barcelos

A pobreza bem apessoada

00h28m Manuel António Pina


Nos idos da Guerra Colonial, chegou-me às mãos, enviado de Paris a embrulhar um frasco de água de colónia (a imaginação não tinha limites para iludir os homens da PIDE que, nos CTT, espiolhavam a correspondência "vinda de fora"), um número da "Paris Match" sobre a guerra na Guiné. A edição incluía uma foto de Spínola primorosamente fardado e de monóculo, e - reportando-se ao facto de o general, para manter elevado o moral das tropas, ser implacável na exigência de ver os soldados sempre bem barbeados e, como se diz no Exército, devidamente "ataviados" - tinha como título algo do género: "Perder a guerra sim, mas com a barba feita".
Passaram 40 anos e, hoje, a guerra é outra, já não contra os "turras" em nome da "civilização cristã ocidental", mas contra trabalhadores, pensionistas e pobres em nome da civilização dos "mercados".
E Spínola parece ter deixado epígonos, pelo menos na Câmara de Barcelos. Conta a Lusa que a autarquia, para manter elevado o moral (a Câmara de Barcelos diz "bem-estar") dos humilhados e ofendidos pela política governamental de, como Passos Coelho reconhece, empobrecimento geral, contratou um cabeleireiro que lhes assegurará serviços gratuitos de coloração, corte, "brushing" e "manicure".
Como a "Paris Match" diria, as "pessoas afectadas por situações de carência" de Barcelos poderão morrer de fome, mas morrerão impecavelmente penteadas e de unhas envernizadas e aparadas

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